quarta-feira, 7 de outubro de 2009

antropogonia na educação

a criação do homem pela educação, segundo eu!
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Construção.

O homem, como um ser fraco diante da natureza, sempre valorizou a construção dos alicerces da sua sociedade em bases fortes e estáveis, que garantissem resistência ao tempo e outros fatores, naturais ou não. E aquele que a esses ideais se enquadrava recebia dos seus uma atribuição especial: a dignidade.
Na tentativa da manutenção do seu reinado, os primeiros homens dignos criaram uma função para que os alicerces se tornassem mais resistentes. Essa função caberia a um homem que pudesse dedicar toda sua vida no exercício de disciplinar os pequenos homens a se tornarem homens dignos como os primeiros grandes homens.
A esses senhores seria dada a alcunha de mestres e seu lugar seria um imenso forno, onde forjaria dos pequenos homens a dignidade em pessoa.
Os mestres seriam, perante a lei, a representação da relação de pai e filho. Caberia a eles tolher todas as atitudes repulsivas e selvagens que os pequenos homens traziam de herança dos macacos. Encarnar os filhos com a dignidade que os pais sustentam consigo, por sua vez, resultantes da digna sociedade que os homens estavam a construir.
A mão do pai que aponta a direção correta, leva os pequenos homens ao caminho da continuidade desmedida.
A ferro e fogo, nas fornalhas dos primeiros mestres, forjou-se um milhão de homens dignos, que poderiam dar continuidade ao sonho do reinado humano.
E assim eles fizeram.

Perpetuação.

Um milhão de novos homens dignos trabalhariam para que os seus pais pudessem descansar. Sua força de trabalho era recompensada pela construção e preservação da propriedade humana. Graças aos fogo dos mestres, essa geração podia afirmar-se tão digna quanto a primeira, e sustentariam nossa sociedade por uma centena de anos e ainda após isso seriam lembrados como nossos bons pais.
A luta diária daqueles que criaram o batalhão de homens dignos era recompensada em seus leitos de morte, quando percebiam que os prédios permaneciam os mesmos e as casas, por volta das sete, ainda tinham o mesmo cheiro de feijão e sons de telejornal. A sociedade havia resistido intacta diante da atrocidade do tempo e um milhão de homens preenchiam os vazios das ruas com suas dignidades estampadas nas carteiras de trabalho e nas notas de dois reais.
Os homens sorriam diante da beleza de suas mulheres e cantavam a juventude de seus ideais. Seguiu-se o momento da perpetuação da espécie, onde o cheiro do feijão das sete confundia-se ao do sexo feito diante do telejornal. A dignidade entendia o happy hour como um falo entende pernas abertas.
E a cada dia, os novos pequenos homens que corriam às ruas e destruíam vidraças eram mais numerosos, praticamente num recorde da indústria de filhos. Assim tornando-se mais numerosos que os próprios pais, inclusive.

Preocupação.

Um temeroso batalhão de um milhão de homens seguidos por seus dois milhões de filhos foram bater à porta dos mais velhos, questionando a validade de encarnar em suas pequenas crias um pouco de dignidade também. Os velhos, que mais nada sabiam à respeito de prédios, vidraças ou feijão, deram liberdade aos homens dignos para fazerem o que bem entendessem de seus pequenos homens, desde que não mais os perturbassem.
Sem bem entenderem, um milhão de homens levaram seus filhos aos fornos da sociedade onde pretendiam forjá-los ao modelo de sua dignidade, para que pudéssemos observar os humanos perpetuando-se novamente.
Porém, os velhos mestres mortos já não mais poderiam indicar aos filhos dos dignos sua virtude, e aqueles que ainda permaneciam fortes não eram suficientes para forjar decentemente os dois milhões de pequenos homens ruidosos que ali estavam.
Decidiu-se democraticamente que os mestres deveriam fazer o trabalho possível em suas crias. Que elas, ao mínimo, deveriam deixar os fornos valorizando a dignidade dos pais e crendo em seus avós.
Num esforço sincero, os mestres restantes atearam fogo a dois milhões de pequenos homens naquela noite.

Masturbação.

Os egos incendiados vinham à tona através de ruídos tenebrosos, bolhas de hormônio e danças caóticas. Manifestavam-se sexualmente, sozinhos ou em grupos, sempre inflamando urros de gloria e desespero ao desconhecido futuro próximo.
Quanto aos mestres, caberia a tarefa de dispersá-los, desmontá-los, desfigurá-los, descategorizá-los e em seguida catalogá-los, lixá-los, poli-los e vendê-los de volta aos pais.
O martelo do mestre provoca um estampido oco quando esmaga a cabeça de um ego incendiado pego de surpresa. Em seguida, todos os outros começam a gargalhar e se mover freneticamente pela fornalha. O ego atingido se apaga, tornando-se rocha sólida. A gargalhada remodela-se um uníssono de pavor ao confronto com a fragilidade do ser.
Por sua vez, os mestres passam a entoar mantras físicos enquanto abatiam dezenas de incendiados mais frágeis, arremessando restos de ego partidos contra a multidão que não se continha entre risos e fugas.
Aos poucos, o cansaço trazia os mestres ao chão causando uma reação até então inédita. Os egos incendiados passaram a organizar-se para atacá-los. Pequenos grupos de duzentos ou trezentos mais corajosos pulavam em direção aos mestres mais fracos de uma só vez, incendiando seus corpos e trazendo seus egos à tona.

Colação.

Travaram a batalha durante dez anos. Até o momento que apenas o mestre mais jovem restava vivo diante da multidão de quatrocentos mil egos exaltados. Acuado, escondera-se fingindo de morto, atitude essa que rendeu-lhe oportunidade para testemunhar a maior festa de toda a história do homem.
Durante sessenta dias, reuniram-se diante da caldeira central e formaram uma planície de corpos flamejantes que copulavam em nome da resistência à batalha.
Era a Orgia dos Quatrocentos Mil Egos Vencedores.
Muitas vezes o caos hormonal ali presente causava tumulto entre eles. Durante a festa, o mestre mais jovem presenciou assassinatos deliberados de vários egos por conta de infrações às regras estipuladas por eles próprios. Em sua linguagem, que é incompreensível ao ouvido humano, eles organizavam-se para punir outros egos que haviam invadido o espaço que não lhe era destinado.
O ar voluptuoso que o jovem mestre respirara durante os sessenta dias da Orgia, infeccionara suas ventas e trouxera a doença da excitação à sua mente. Ele agora tinha o raciocínio retardado pelo cheiro do sexo e não seria capaz de resistir por muito mais tempo além daquelas ultimas horas. Os corpos dos egos estavam enfraquecidos pelos consecutivos orgasmos quando o jovem mestre teve a idéia que lhe projetou à história de nossa sociedade: os canudos das fornalhas!
Reunindo suas ultimas forças, o jovem mestre atacou os egos incendiados enquanto desfrutavam do gozo, projetando-lhes canudos em seus anus, assim removendo temporariamente as possibilidades de reação. Os egos agora tinham seus vácuos preenchidos com os frutos das fornalhas e as percepções abaladas por uma violenta penetração anal.
O jovem mestre, ainda antes de gozar para a morte, expulsou todos os egos dos fornos da sociedade, acreditando que os canudos fossem o suficiente para acalmá-los na vida pública. Doze anos após o início desta batalha tornou-se herói ejaculando suas ultimas forças.
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(continua...)