segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Transeunte.

Trânsito em todas as direções.
Aos montes, o ritmo frenético dobra esquinas e faróis.
E não dormem as passarelas asfaltadas.
Que se cruzam elevados monumentos da via de progresso.
Progressão de mão única, sem retornos.
Com seus automóveis, o trânsito é o grande autômato urbano.
Território do movimento mecânico da cidade.

E se perdem os sentidos da corrida.
Sente-se apenas a necessidade de correr.
No corpo, naquilo que ele tem de orgânico.
E com o corpo, se atira à cidade.
Correndo em busca de direção,
Sem ver que mesmo que perdida
A corrida já é direcionada.

E de tanto circular por esquinas,
E tanto lamber o vidro das vitrines,
E tanto se afogar em valetas,
E agarrar-se a seus pertences com toda força que possui,
E de tanto passar pela paisagem que não lhe pertence à memória,
E de tanto passar se esquivando da paisagem.

Que em não encontrar sentido no que existe,
Que em não se entender no que está pronto
Já que tudo está,
E não está em nada,
Não há outro senão o de destruir.
Nem que seja a si
Ou o próprio olhar que não vê senão o alheio
Da própria definição.

E se afoga em fumaça escapista,
Além daquela dos escapamentos
Por entre corredores de carros parados
Com vapor de algo na cabeça
Acenando pra câmeras públicas,
Mandando imagens de aceno direto pras telas privadas.
Porque são todos vigias à domicílio.

E assusta ver.
Por que não é reconhecido
O aceno em meio ao enxame.
E se tonteia em meio movimento.
Que lhe faz contraste ao corpo inerte.

E corre mais.
Porque o corpo pede mais.
Encarando tudo que não lhe seja
E salta por sobre os toldos
Corre com as solas nas janelas espelhadas dos prédios
E se vê dividindo reflexo com favelas
Que vão sendo derrubadas por tratores ferozes
Por sujarem por demais reflexos tão caros.

E se vê calçada.
E se vê sujeira.
E se vê caça.
E as pás dos tratores se aceleram a varredura.
E as fardas que caçam sujos.
E vão reformando o concreto pra que não haja abrigos.
E atrás de si se levanta o chão destruído.
E reformado.
E todos os parados do trânsito são sujos.
E para ser limpo basta circular.
E corre mais.
E cambaleia por entre pessoas às pressas.
E foge de fardas azuis.
Escala os elevados e cospe neles.
Encrencando com o telefone público,
Distribui chutes e pontapés.

E amarra ao próprio peito uma bomba.
Porque não se vê em nada.
E amarra ao próprio peito uma bomba.
Porque não pertence a nada.
E amarra ao próprio peito uma bomba.
Porque é invisível.
E amarra ao próprio peito uma bomba.
Pra que pela primeira vez seja visto, misturado à paisagem.

O trânsito é o grande autômato urbano,
Corre cheio por todas as vias.
Em todas as direções.
Numa via de mão única,
Seu retorno, é para si.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ESTILHAÇO POUCO É BOBAGEM ou RÉQUIEM PARA UM VIDRO TEMPERADO



Sugestão Sonora: Coisas n°5 - Moacir Santos
http://rapidshare.com/files/264607457/Moacir_Santos_-_Coisas_n_5.mp3.html



O cobrador mal se abalou ao ouvir aqueles xingamentos todos. Limitava-se a fazer breves comentários com o motorista enquanto o negreiro, quase vazio, deixava o Largo da Concórdia.

"CEI'SÃO UNS FILHO DA PUTA! O CARA PAGOU UM CRUZÊRO PRO MOTORISTA QUE EU VÍ, EU VÍ!"

E continuou...

"FULERAGE DO CARALHO, O MOTORISTA TOMA O CAFEZINHO DELE E NÓIS TUDO AQUI PAGA FEITO TROUXA. TÚ TÁ FUDIDO MOTORISTA, SE TU FOR EM LIMOÊRO TU TÁ FODIDO, SE PASSAR NA FRENTE DO MEU BAR LEVA É UMA PEXERADA!"

Impaciente, a mulher que havia se afastado sem dizer uma palavra quebrou o quase silêncio:

"CABRA SAFADO, FIQUE QUIETO, TU QUER TOMAR TUA CANA, USAR TEUS TROÇO TU USE, MAS NUM MAZÉLE CUM QUEM TÁ QUIETO!"

Mas tão clara quanto a intenção da mulher, foi a falta de êxito.

"E TU SE CALE QUE NUM SOU OTÁRIO, TU TAMBÉM PAGASSE TEUS DOIS, EU PAGUEI, ELE PAGOU, ELA PAGOU, SÓ O SAFADO NUM PAGOU E O VIADO DO MOTORISTA FEZ NÓIS TUDO DE TROUXA, EU VOU FICAR QUIETO NÃO, EU VOU É PUXAR ESSA PORRA AQUI!

Cambaleante, o homem dirigiu-se à alavanca de emergência com a séria intenção de derrubar a janela. Puxou. E não conseguiu derrubá-la.

"TU SE GUARDE MOTORISTA, TU SE GUARDE, SE LHE PEGAR TUA MULÉ FICA VIÚVA SEM NEM SABER DE ONDE! COBRADOR VIADO DO CARALHO!!"

Já na Curva da Morte, o cara levantou-se aos berros e foi em direção ao cobrador. A mulher, prontamente (e também aos berros!), chutou-lhe com voracidade o peito deixando-lhe a marca do salto do surrado sapato.

"VAGABUNDO, CORNO DA MOLESTIA, EU VOU LHE DENUNCIAR ARRUACEIRO, EU VOU LHE DENUNCIAR! CHUPETA DE CANA DA GOTA SERENA...

"E EU LÁ TENHO MEDO DE TÚ QUENGA DOS INFERNO? DENUNCIE QUE EU NUM SO HOME DE GUENTAR DESAFORO NÃO, PORQUE EU PAGUEI MEUS DOIS MERRÉIS, E O MOTORISTA ME FAZ UMA FULERAGE DESSA! EU NUM GUENTO CUM ISSO NÃO... EU VOU PUXAR ESSA PORRA!"

Ermelino Matarazzo ficava para trás quando o bebum caminhou então até a alavanca da outra extremidade da janela. Puxou. Mais precisamente, pendurou-se na alavanca fazendo força com os pés na base da janela. Não conseguiu mais que alguns estalos. - a janela, heróicamente, manteve-se intacta.

Os passageiros restantes, bastante íntimos da situação, tentaram intervir. Os mais compreensivos tentavam tranquilizar. Os mais agressivos, geralmente próximos a seus destinos, gastavam alguns breves insultos, apenas para não desperdiçar a rara oportunidade.

O bêbado não se rendeu.

"TÔ SABENDO MOTÔ, ESSE FILHO DA PUTA GANHA O DELE E AINDA FAZ O POVO DE OTÁRIO, TÔ SABENDO, EU VOU DERRUBAR ESSA PORRA AQUI, EU VOU DERRUBAR!!"

Enquanto o ônibus passava o farol vermelho na Praça do Forró o bebum entrou em extase. Após mais uma tentativa fracassada com a alavanca de emergência, optou por uma via menos tecnológica, porém que se mostrou mais eficiente: meteu um ponta pé na janela.
Feito chuva de granizo, os estilhaços de vidro temperado se espalharam por todo o corredor do busão, ganhando a atenção e os olhares de todos os poucos passageiros daquela madrugada.

"VÁ PRA DELEGACIA SEU MOTORISTA QUE EU VOU DENUNCIAR ESSE CORNO! EU VOU LHE DENUNCIAR SEU FILHO DA PUTA, HOJE TU VAI SER PRESO! E TU NUM ENTRA MAIS EM MINHA CASA NÃO, VISSE!?"

Ao ouvir o estilhaço, a gritaria, o motorista alterou o habitual itinerário...

"TENHO MEDO DE PORRA NENHUMA NÃO, VISSE!?"

...deixou a avenida Nordestina e voltou por uma paralela até chegar a seu mais recente destino, o 22°DP. Desceu.

"NEM DE TU NEM DE POLÍCIA NEM DE MOTORISTA NEM DE PORRA NENHUMA! ÓI EU AQUI REDE GROBO!" - disse o homem mostrando o dedo do meio à câmera no fundo do ônibus.

E se foi pela janela que ele mesmo quebrou.
Do crime à fuga numa só janela.



domingo, 2 de agosto de 2009

dez ogivas e insatisfação

a crise dos mísseis, resumida pelo site brasilescola:

"

Na década de 1960, os olhos do mundo se voltavam para uma pequena ilha centro-americana que, por meio de uma revolução armada, derrubou a hegemonia política dos EUA na América Latina. Naquele período, a ilha de Cuba se tornou um enorme atrativo político capaz de instigar o temor e a admiração de muitos políticos. Para os EUA, aquela situação representava uma séria ameaça aos seus interesses econômicos, políticos e ideológicos. Não por acaso, as autoridades norte-americanas buscaram todas as formas para conter a consolidação do Estado revolucionário cubano. Sem obter uma resposta favorável, o presidente John F. Kennedy decidiu, no início de 1961, findar as relações diplomáticas com o governo cubano. Alguns meses depois, organizou um grupo de soldados cubanos e estadunidenses para derrubar o governo de Fidel Castro por meio de uma invasão à Baía dos Porcos. O chamado “Ataque à Baía dos Porcos” acabou não surtindo o efeito esperado e o insucesso daquela manobra militar poderia representar sérios riscos para os interesses dos EUA. Após esse incidente, Fidel Castro se aproximou do bloco socialista promovendo um intenso diálogo com o presidente russo Nikita Kruschev. Dessa nova aliança, nasceu um plano que materializou uma das maiores crises políticas da Guerra Fria. Segundo relato, no dia 14 de outubro de 1962, um avião de espionagem norte-americano sobrevoou o território cubano em busca de informações sobre o local. Nessa missão, coletou uma série de imagens do que parecia ser uma nova base militar em construção. Após um estudo detalhado das imagens, as autoridades norte-americanas descobriram que os soviéticos estavam instalando diversos mísseis capazes de carregar ogivas nucleares em Cuba. Pela primeira vez, os norte-americanos sentiram-se ameaçados pelos horrores das mesmas armas que protagonizaram o ataque nuclear de Hiroshima e Nagasaki. Para alguns analistas, a ousadia da manobra militar cubano-soviética poderia dar início a uma nova guerra em escala mundial. Dessa forma, entre os dias 16 e 29 de outubro daquele mesmo ano, foi iniciada uma delicada rodada de negociações que deveria conter a ameaça de uma guerra nuclear. Após um intenso diálogo, marcado inclusive com uma reunião entre Kennedy e Kruschev, os soviéticos decidiram retirar todos aqueles mísseis apontados para a nação-líder do bloco capitalista. Na verdade, a possibilidade de guerra era impossível, já que ambos os lados tinham um poder bélico de destruição capaz de aniquilar completamente o inimigo. Depois disso, acordos proibindo a proliferação de armas nucleares foram assinados pelas lideranças socialistas e capitalistas.

"

os senhores, por favor sintam-se à vontade para apreciar também o mesmo resumo por uma outra fonte:



trova nuclear,
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